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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mas, afinal, o que lê a Musa do Blogue?

Amizadinha, talvez você já tenha parado para pensar sobre o que estaria lendo a bela moça na pintura que ilustra o título da Estante. Pois bem, esse é um mistério que sempre me intrigou, mas que só pude elucidar parcialmente.
O quadro se intitula "O poeta favorito" e foi pintado por Sir Lawrence Alma-Tadema em 1889. Nascido na Holanda, Alma-Tadema alcançou a fama na Inglaterra vitoriana, no contexto de um movimento conhecido como Victorian Classicism. Muitas de suas obras mais famosas criam uma visão de como devia ser a vida das classes privilegiadas da época da Roma imperial: idílios passeios, banhos, conversas sofisticadas, banquetes, oferendas nos templos dos deuses pagãos, audição de música, leitura de poesia, tudo isso ambientado numa arquitetura em que o mármore é rei, sempre abrindo espaço para a visão, mesmo que ao longe, de um mar mais que azul.
Mas, afinal, o que lê a moça?
Mesmo o mais cuidadoso exame do papiro (que ela desenrolou até o fim, mostrando não só o seu interesse pela leitura, mas o fato de que dispõe de tempo para esse lazer culto que divide com sua amiga lânguida e ruiva) não permite decifrar qual texto chamou sua atenção, muito menos seu autor.
Entretanto, há na imagem uma indicação de quem pode ser o autor, o poeta favorito das duas belas. Atrás da ruiva ruborizada, há um painel de bronze recobrindo uma parede; nele, há retratos de três das nove Musas da mitologia clássica: Tália (musa da comédia), Urânia (astronomia) e Polímnia (poesia ou música sacra); na parte de baixo, percorrendo toda a base do painel, há uma longa frase em latim, de que se podem ver apenas algumas palavras.
Mesmo poucas, essas palavras são suficientes para esclarecer sua origem. Trata-se de um trecho da ode 31 do livro I das Odes de Horácio (65 a.C-8 d.C), o grande poeta lírico da Roma clássica. Em tradução de Bento Prado de Almeida Ferraz, o primeiro verso dessa ode diz assim: "O que pede o vate ao celebrado Apolo?", mostrando que seu tema é a reflexão sobre o que o eu-lírico espera da vida. A frase citada na pintura de Alma-Tadema faz parte do final do poema:

"Dá-me, — eu te peço, — filho de Latona,
a mim, válido, forte, íntegra a mente,
dá-me que frua da fortuna ganha
e velhice não sofra vergonhosa,
nem me venha a faltar jamais a lira."

O filho de Latona é o próprio Apolo, deus, entre outros atributos, da poesia. A lira, associada a Orfeu, filho de Apolo, simboliza, claro, o lirismo e, por extensão, o amor e o erotismo. É isso tudo que o poeta não quer que lhe falte na vida. Será por isso que a ruivinha ficou ruborizada?
O que você acha?

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